quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Dosando o Veneno Sensual

Meus ensaios são tão ominosos ao meu “Eu” que sempre que me encontro em uma entrevista, daquelas abruptas que não temos estômago para digerir, fico pálido de vergonha diante das interrogações de meus conhecidos. Sinto-me cada vez mais nu. Despir-se moralmente em público é muito mais estressante e constrangedor do que sair pelado na rua; ao menos, na segunda hipótese, o linchamento é instantâneo. O juízo latente me sufoca, causa fraturas nos meus ossos e me torna pusilânime, por isso, evito cada vez mais a aglutinação em grupo. A misantropia é minha areia movediça de todos os dias e só há egresso da acomodação solitária, quando sinto que meus amigos valem à pena, mas raramente isso sucede.
Nietzsche dizia que “tudo o que se conhece perde a graça”, Dostoievski vilipendiara a ordem: “O sentido acaba com a admiração”; dois demônios internos que funcionam como repelentes da minha atividade social. Não posso incorrer ao pecado da superficialidade, menos ainda ao da banalidade de um ser mimético, comum e encontrável nas calçadas. Portanto, não force compreensão, meu escopo não é ser analisado ou diagnosticado, antes, é dar uma brecha sedutora para que meu leitor se afogue e fique tão vermelho e tímido quanto eu.
Sempre senti o aroma podre da nossa espécie, ele veio acompanhado de perfumes de grife com o intuito de cortinar nossa essência escatológica, trágica e negadora dessas duas condições. Sei que sou um mentiroso, e mentirosos vivem no eterno desconforto de querer falar e não poder ou do medo da descoberta. Não temos mais fogo, mas quem precisa de lenha e querosene na época do “politicamente correto”? Não vou culpar sistemas, afinal, me parece que o strip-tease na praça nunca foi tolerado: a repressão é coisa congênita e peste crônica.
O marketing da transa é a roupa, isso mostra que coisas que repousam recônditas instigam instintos primitivos no homem. Sim, imagina se todas as pessoas andassem com os genitais de fora? Meus amigos, fazer sexo seria como almoçar: algo conveniente, bom, normal, mas não um “segredo de liquidificador”. O sexo masculino sabe qual é o ápice da existência, já o feminino, devido nossa incompetência, poucas vezes o sabe.
A experiência da nudez à dois só é bela quando há intimidade, confiança e segredos velados até então, sem esses elementos uma das partes pode se regozijar com o fraco desempenho da outra tornando o ato vil.
Sem preservativos, nasce a prole, tanto no sexo quanto na entrevista. Na maior parte dos casos esse filho é indesejado, por isso que em ambas as hipóteses uso camisinha: ótimo termo para designar a roupa civil, pois sem uma camisa, ainda que pequena, vestimos uma saia justa. Quanto chavão! Talvez o povo tenha sua sabedoria que nunca vi.
A proteção é necessária até por questões de saúde, por isso, conhecidos meus, saibam que estarei sempre seguro, mas sempre pronto para a penetração. Não tenham medo, mas não chamem minha atenção por que minha carne é sedenta. Naqueles encontros inesperados vou tentar me conter. 
Essa é a beleza da literatura: não há relação mais íntima entre seres da mesma raça. Sou promíscuo, admito! Essa semana, minha paixão é por Jaymes Joyce. Maldita esfera masculina, menos mal que, de vez em quando, caio nos braços da Clarice Lispector.
Quanta gente se ufana por falar a verdade! Pobres filhos de Mefistófeles, mal sabem o teor ácido do que é real. A franqueza autêntica é uma prerrogativa dos espíritos livres, daqueles que pairam sobre a terra e caem no abismo dançando. É algo que não me parece uma habilidade diplomática, uma educação inglesa ou uma roupa descolada. O homem que se arriscar a não mentir está morto.
Essa bolha nos aparta da pele de uma mulher, da fome, do frio, da dor, das baratas, do carro, dos remédios e da realidade. Que bolha é essa? A folha em branco, essa que é o imã da alma. Enquanto escrevo e você lê: pessoas nascem, morrem, transam, comem e não pensam. O mundo metafísico é uma grande bazófia.
Vista-se, seja discreto, me mate de curiosidade, mas não use armadura de aço.
Mulheres vulgares não são sensuais, são apenas a exposição angustiada daquilo que querem ser e não conseguem; são exatamente iguais pessoas eloquentes.

Só não esqueça de deixar uma gota de veneno: é nela que vou encontrar sua essência e me embriagar tomando o resto da garrafa.  

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