sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Show-business da Fé

Mais-valia? De acordo com o materialismo ateu, sim. Estranha é a concepção de juízo de valor de uma doutrina que opera denegando os sistemas existentes; que despeja vilipêndio ao que é sacro e que sabe que o homem é essencialmente material e sem sentido. Como conferir natureza objetiva ao preço das coisas? Quem disse que a força de trabalho é mais importante do que os meios de produção? Só um espírito tomado pelo fascismo pode acreditar que suas impressões são verdades universais, por que a tese da mais-valia é isso: impressão causada pela ganância. Compartilho do mesmo desconforto quando vejo meu extrato bancário no final do mês: compreendo Karl Marx.
A Economia moderna é nossa religião, assim como Das Kapital ainda é a bíblia dos diretórios acadêmicos de humanas.
Outrora, fui inquirido por um amigo: “tanto a direita quanto a esquerda se apoiam em dogmas e verdades pressupostas. Não seria mais ético aceitar o sistema que tem como escopo igualitarizar a renda?” Ótima pergunta, mas prefiro a meritocracia. Como diria Gustavo Franco: “onde não há mérito, a mediocridade impera”.
Enfim, valores materiais, no caso do consumo livre, são predileções de foro íntimo do sujeito: você pode achar que um relógio Armani não vale quatro mil reais, mas há pessoas que pagam. Tudo depende da vontade subjetiva e das demandas de cada pessoa: tem gente que compra livros de auto-ajuda, paga por uma sessão de psicanálise, às vezes compra o ingresso de uma palestra motivacional, vai ao estádio assistir futebol ou paga um salário mínimo por uma peça de teatro, um show de música ou algum entretenimento barato. Qual a razão para demonizar igrejas que cobram o culto? O fiel não vai à Igreja com o mesmo intuito do espectador da palestra motivacional? Ora essa, vocês criaram suas seitas modernas e agora  discriminam as tradicionais? 
Nem todos os protestantes são ingênuos que remuneram um impostor com uma bíblia na mão. “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, obra de Max Weber, já falava acerca do empreendedorismo dos evangélicos.
Não falo daqueles religiosos cegamente sectários que encontramos orando em voz alta na Praça da Sé, nem daqueles que entregam um panfleto e dizem: “Jesus te ama”. Caso não saiba, a doação de bens e recursos econômicos à grupos religiosos, também é praxe entre os estadunidenses. Mas não ataco os domésticos, desde que não roubem meu dinheiro, pelo fato de que esse tipo de transação comercial é uma questão de liberdade do indivíduo.
É meus amigos, a única certeza é a de que os preços vão subir. Quando a inflação é a regra (numa sociedade que não consome mais bens de consumo, antes deles, compra sonhos e ilusões pueris) pagamos cada vez mais alto por essa demanda sem intermitências por felicidade. Não é a lei do mercado: “procura e oferta”? Somos pós-modernos, agoniados em busca de sentido e sensações, cada vez mais frágeis a qualquer remédio duvidoso que esteja na prateleira.
O protestantismo ainda é adolescente; talvez um dia, ele encontre a maturidade do ancião católico e seja tão rabugento e resistente à mudança quanto. Mas a dissidência constante só mostra o caráter de um jovem rebelde que busca ser diferente, contestador e fútil.


Esses são pequenos exemplos do quão é ridículo ter fé em si mesmo. Quem acredita sempre cansa (não tenho nada contra Renato Russo). Uma instituição que tem mais de dois mil anos e permanece sólida, ensina que fé não se compra na padaria. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário