Mais-valia? De acordo com o materialismo ateu, sim. Estranha
é a concepção de juízo de valor de uma doutrina que opera denegando os sistemas
existentes; que despeja vilipêndio ao que é sacro e que sabe que o homem é
essencialmente material e sem sentido. Como conferir natureza objetiva ao preço
das coisas? Quem disse que a força de trabalho é mais importante do que os
meios de produção? Só um espírito tomado pelo fascismo pode acreditar que suas
impressões são verdades universais, por que a tese da mais-valia é isso:
impressão causada pela ganância. Compartilho do mesmo desconforto quando vejo
meu extrato bancário no final do mês: compreendo Karl Marx.
A Economia moderna é nossa religião, assim como Das Kapital ainda é a bíblia dos diretórios
acadêmicos de humanas.
Outrora, fui inquirido por um amigo: “tanto a direita quanto
a esquerda se apoiam em dogmas e verdades pressupostas. Não seria mais ético aceitar
o sistema que tem como escopo igualitarizar a renda?” Ótima pergunta, mas
prefiro a meritocracia. Como diria Gustavo Franco: “onde não há mérito, a mediocridade
impera”.
Enfim, valores materiais, no caso do consumo livre, são
predileções de foro íntimo do sujeito: você pode achar que um relógio Armani não
vale quatro mil reais, mas há pessoas que pagam. Tudo depende da vontade
subjetiva e das demandas de cada pessoa: tem gente que compra livros de
auto-ajuda, paga por uma sessão de psicanálise, às vezes compra o ingresso de
uma palestra motivacional, vai ao estádio assistir futebol ou paga um salário mínimo
por uma peça de teatro, um show de música ou algum entretenimento barato. Qual
a razão para demonizar igrejas que cobram o culto? O fiel não vai à Igreja com
o mesmo intuito do espectador da palestra motivacional? Ora essa, vocês criaram
suas seitas modernas e agora discriminam
as tradicionais?
Nem todos os protestantes são ingênuos que remuneram um
impostor com uma bíblia na mão. “A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo”, obra de Max Weber, já falava acerca do empreendedorismo dos evangélicos.
Não falo daqueles religiosos cegamente sectários que
encontramos orando em voz alta na Praça da Sé, nem daqueles que entregam um
panfleto e dizem: “Jesus te ama”. Caso não saiba, a doação de bens e recursos
econômicos à grupos religiosos, também é praxe entre os estadunidenses. Mas não
ataco os domésticos, desde que não roubem meu dinheiro, pelo fato de que esse
tipo de transação comercial é uma questão de liberdade do indivíduo.
É meus amigos, a única certeza é a de que os preços vão
subir. Quando a inflação é a regra (numa sociedade que não consome mais bens de
consumo, antes deles, compra sonhos e ilusões pueris) pagamos cada vez mais
alto por essa demanda sem intermitências por felicidade. Não é a lei do
mercado: “procura e oferta”? Somos pós-modernos, agoniados em busca de sentido e
sensações, cada vez mais frágeis a qualquer remédio duvidoso que esteja na
prateleira.
O protestantismo ainda é adolescente; talvez um dia, ele
encontre a maturidade do ancião católico e seja tão rabugento e resistente à
mudança quanto. Mas a dissidência constante só mostra o caráter de um jovem
rebelde que busca ser diferente, contestador e fútil.
Esses são pequenos exemplos do quão é ridículo ter fé em si
mesmo. Quem acredita sempre cansa (não tenho nada contra Renato Russo). Uma
instituição que tem mais de dois mil anos e permanece sólida, ensina que fé não
se compra na padaria.
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