sábado, 27 de julho de 2013

Mendigando Ar

Não importa qual a resolução: o alívio de um ser ininterruptamente agoniado só chega com a resposta definitiva. Esperar pode matar ou manter o pulmão respirando até o golpe de misericórdia, mas é melhor sofrê-lo do que aguardá-lo e perecer no envelhecimento.
Desconfio do meu niilismo. Parece que há uma transcendência que escreve minha vida à base do: “aprenda e faça”. Isso não é auto-ajuda, antes disso, é autodestruição. Aprendi na escola mais trágica de todas, tive algumas aulas com Dostoiévski, Kafka, Goethe e Tolstoi, e esse último me legou a seguinte frase: “Doentes são todos os que nos outros vêem sintomas de loucura quando não têm um espelho em que possam ver o que lhes vai dentro da alma”. “O espelho da alma”, frase bela, mas nunca imaginei que veria um reflexo tão integral da minha própria imagem.
Esse ano, conheci a fase do “faça”, e o que fiz? Tudo errado! Apaixonei-me como em Tolstoi, quis ser desumano como em Dostoiévski e me tornei um angustiado a procura de saída, como em Kafka.
Sinto que nunca vou contemplar algo de pleno, nem mesmo o fracasso; viverei sempre inebriado pela possibilidade quimérica do futuro, isso prensa meu corpo todos os dias.
Não trago nenhum espírito inquieto, sou apenas uma peça do cotidiano, e, por conhecer as pessoas pouco, a timidez esmaga minhas pretensões mais fúteis e faz com que cresça um ódio ao que é de carne e osso, mesclado a um medo, por não saber com quem realmente falo.
Os sorrisos parecem irônicos, as palavras não vêm de dentro, os olhares revelam pensamentos vagos, impertinentes e inexpressáveis em público. Tudo me soa bazófia, impostura, e ninguém me poupa dessas falsidades: da minha mãe ao meu melhor amigo, passando pelo meu chefe e pela balconista da lanchonete. Digam-me a verdade, eu não aguento mais!
O ar do prédio onde trabalho está contaminado pela ironia. Vejo a cara dos meus superiores hierárquicos e me pergunto se eles descobriram meus pequenos crimes, se sim, porque não me demitem por justa causa logo? Faço uma entrevista de emprego, o selecionador fica de ligar se a resposta for a aprovação, mas o telefone não toca, me pergunto se está quebrado, se perdi a ligação ou se realmente fui rejeitado por não me enquadrar no perfil da vaga? Agora chego em casa, minha mãe cochicha pelos cantos, abaixa o tom de voz. Um ex-grande amigo mentiu durante seis meses em troca de um interesse pessoal, mas o pior: não admite que o fez.
Talvez a bomba mostre sua face, como tantas vezes já aconteceu, e esses desgraçados destilem todo o veneno que há nas suas cabeças. Eles não medem esforços para me destruir, quando decidem se manifestar, jogam absolutamente tudo o que pode me ferir sobre a mesa.
Há horas que me vejo em vantagem, afinal, poucos sabem qual é o meu “calcanhar de Aquiles”. Sou exímio observador, tão covarde que jamais me dou por vencido, diante da vida sim, pois sei que nessa briga já fui nocauteado, mas diante do ser humano nunca!
Talvez, tomar chuva gelada suportando um frio de dois graus, duas semanas depois de uma pneumonia grave, tenha me tornado mais intrépido. Agora é minha vez de olhar nos seus olhos e mostrar que você não passa de pó e é tão fraco quanto eu.
Já aceitei o fado: primeiro ter, legitimar, conquistar e jogar na cara de todo mundo; depois eu renego todo esse lixo. 

Expus minha alma na prateleira, esse é o preço. Mefistófeles não é nenhum demônio transmutado da carne de um cão. Ele é onipresente: oferta a glória e quando pensamos alcança-la já estamos sobre a superfície ardente do inferno! 
Só preciso respirar: minha falta de fé sufoca meu espírito, minha falta de responsabilidade destrói minha fisiologia. Aqui no meu mundo, oxigênio vale ouro.

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