quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Exílio Edênico e o Best-Seller Jurídico

O exílio dos pecadores é aqui na terra, mas, porque o plano intramundano como sanção? A condição edênica não existe para os filhos de Adão: a pena é hereditária e ad eternum, só assim, a prática do que é profano não contagia o paraíso. Os religiosos sectários ainda não aprenderam a consubstanciação da sujeira às nossas almas e, deve ser com essa arrogância, que anseiam pela construção de obras perfeitas. Ter uma vida metódica, casta, limpa e sem máculas, não é uma prerrogativa de quem, outrora, se atreveu a erguer a mão em busca de prazer hedonista.
Sem um fito analítico desse palco de horrores, podemos incorrer a puerilidade de quem vê o milagre constantemente e fica estupefato com o acaso. Porque essa negação sistemática da contingência? Deixando de lado as explicações psicológicas, minha predileção é por observar o ser humano como um revoltado, sem intermitências na sua rebeldia, que tem na judicialização das coisas a sua atividade mais insigne.
Assim, Deus nos outorgou quase todos os modelos de entendimento de aplicação de punições ao indivíduo. A jurisprudência divina é opulenta, mas, como enviesados filhos que somos, elaboramos nossa autonomia; essa, sustentada numa tirania nunca vista na história bíblica.
Vitor Hugo foi preciso: “A vingança cabe ao indivíduo, a punição à Deus. O Estado está entre os dois: nada tão pequeno, nem tão grande, lhe convém.”
Ninguém se resigna ao ser vítima da contingência: sem um cadafalso ou uma agressão física ao que é de carne e osso, a alma fica vazia de sentido. Veja os crimes midiáticos: o desejo por encontrar culpados blinda a ética racional, mostrando que a comunicação entre o pensamento e os sentidos é quase sempre falha. Tem até uma teoria na doutrina do Direito batizada de “Teoria do Domínio do Fato”. Quer dizer: se você conhece uma circunstância por dentro e, mesmo podendo repreendê-la, se omite, você também concorre ao crime e suas devidas punições tipificadas em lei.
Engana-se quem pensa que a nação não manda no Estado. No caso do Brasil, nossa constituição é um espelho escrito dos valores adâmicos desse povo. Todos os grandes juristas, dentre eles Márcio Thomas Bastos, ocupam cargos nas estruturas do poder e não conseguem dialogar na sua própria matéria, simplesmente por serem suscetíveis a demagogia dos adversários e ao linchamento das massas. É consenso na doutrina a ideia de que delitos determinados pela força física (agressões corporais) são os únicos fidedignos de cárcere. Não podemos esquecer que a violência é a razão da existência do poder institucional, sendo assim, a penitenciária é uma ferramenta muito peculiar e específica que não pode dar suporte a todos os tipos de comportamentos que estejam em desacordo com a legislação.
Se Joaquim Barbosa fosse Deus, provavelmente teria construído uma prisão no paraíso e metido xadrez em Adão. Aí está a sabedoria bíblica: cada punição advém da sua razão. Adão experimentou o fruto proibido e foi expurgado do éden, simples.
A improbidade administrativa não merece pena de cárcere, quer dizer: é anti-ético “políticos corruptos” irem pra cadeia, independente dos efeitos de suas práticas. Nesse caso, uma cassação vitalícia de mandato e um confisco patrimonial já ficam de bom tamanho. Há uma série de outros casos que já na raiz o Estado perde seus limites éticos, isso não é uma racionalização em detrimento da moral, antes, é um exercício para entendermos que o Estado não pode oferecer ao sujeito o ensejo de tornar a prejudicar a ordem da mesma forma que outrora o fez.
O Direito é apenas um instrumento de controle das tensões sociais. Se tens suas indignações, guarde-as no foro mais íntimo possível.
Causa-me espanto a democracia grosseira na qual estamos imersos; nessa democracia: todo mundo pode deliberar sobre qualquer assunto. São como crianças que querem ingerir no orçamento da casa e não respeitam quem pode guiá-las.
Veja só a juventude mimada que pinta a cara e vai à Paulista cantar o hino nacional: querem pagar menos impostos e ter mais serviço público. O Estado tornar-se-á uma instituição de caridade privada sustentada pelo erário de algum messias desconhecido.

Nesse ponto há mais uma conversão com o pensamento punitivo bíblico, afinal, será que a palmada pedagógica é ética?

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