domingo, 20 de outubro de 2013

Do Pensamento Dialético ao Potencial do Indivíduo



O “senso crítico” existe, eis o contendor de qualquer pensamento sério. O filósofo trotskista Vladimir Safatle define a crítica como um processo de analogia objetual. Exemplo: há dois ou mais objetos; a crítica, nada mais será do que a comparação de possibilidades e impossibilidades que cada um deles carrega na sua fórmula intrínseca: esse é o organismo da dialética.
Quando, dentro de uma problemática qualquer, o contexto for unilateral é esgotada a capacidade de, nessa mesma problemática, estabelecer um pensamento dialético, até porque, sem uma bipolaridade explícita, a comparação de objetos torna-se inviável, porém, isso não exclui o exame metafísico de um único problema que não possua antagonismo, antíteses ou esferas comparativas.
O contato é mais do que necessário, sem ele a crítica é um conceito sem fundamento, ou apenas uma impressão intuitiva ou mágica.
Essas são as bases do silogismo cognitivo de qualquer ser humano, vejamos situações alegóricas:

  1. A miséria, como regra geral e inerente a condição do ser humano, não tem nenhum valor ou definição concreta se a riqueza não for evidente, logo, o homem que vive isolado do mundo suntuoso não sabe o que é a opulência, assim, esse mesmo homem, pode até sofrer por seu status, porém entende a sua desgraça como algo natural e inseparável da sua ordem de vida.
  2. Quando o luxo é notório, a analogia de fatos é viável, pois, agora, riqueza e pobreza tornam-se conceitos, ainda que abstratos, que podem ser conferidos com a mais simples das reflexões.

O matuto do sertão esquecido e o pobre da cidade, respectivamente, ilustram esses dois tópicos.
Os dois já foram exaustivamente tratados por cineastas, escritores e compositores durante todo o período dos séculos XIX ao XXI no Brasil, quase sempre, com um sensacionalismo absurdo e total falta de conhecimento empírico de tais questões. Muitos deles, de José de Alencar à Chico Buarque e, posteriormente, diretores da Globo Filmes, idolatraram a pobreza quase que como uma virtude do ser humano, ao passo de que, todos viviam, ou vivem, no maior conforto em seus apartamentos na Barra da Tijuca.
Toda classe artística foi doutrinada pela ideologia do social e, esquecendo nossa experiência, fomos impelidos a acreditar que a luta de classes é um problema moral. Acreditar em tal fetiche não seria imoral, se por trás de tudo isso não houvesse interesses políticos em ação.
Da metade do século XX em diante, as idéias marxistas emergiram com base em uma articulação doutrinária que inseriu as idéias de esquerda em dois níveis estratégicos:

  1. Show Business, arte, mídia e cultura em geral.
  2. Políticas públicas.

Só num Estado Democrático de Direito essa metodologia, idealizada pelo italiano Antonio Gramsci, encontra solo fértil. Em governos opressores, qualquer suspeita de insidio ao regime é sumariamente eliminada (recomendo o documentário: “S21, A Máquina de Morte do Khmer Vermelho”, filme que trata do modus operandi do Partido Comunista do Camboja.). Já em países democráticos, onde criticar o governo é um ato de heroísmo, qualquer idéia, por mais fascista que seja, deve ser aceita em nome da saúde de um valor que ninguém acredita.
Que autoridade tenho para falar sobre a questão o objetual do começo desse texto? Toda! Sou um miserável da cidade, como naquele segundo exemplo. Minhas angústias da infância, não tinham nada a ver com as coisas que eu não possuía, antes, eram todas voltadas ao videogame, a bicicleta e aos brinquedos dos meus amigos. Cresci com o afã pela grandeza e por superação e hoje meus planos de vida são estratosféricos.
Minha mãe, cearense, retirante e mãe solteira, viveu por uns vinte anos no interior do nordeste brasileiro em situação precária, assim como todas as pessoas que ela conhecia na época, e seus objetivos econômicos, hoje, são os mais simplórios possíveis.
A opulência é subjetiva e a inveja engrandece o espírito, porém, quem tem impulso ao que é pequeno, quem é fraco e, mesmo dispondo de toda as condições para a vitória, perde constantemente, só se fortalece quando encontra seu “grupinho”.
O glamour é uma prerrogativa íntima do sujeito. O intercurso das massas não passa de palavras de ordem combinadas. A liberdade encarcerada do homem solitário me encanta.

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