segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A Temporalidade do "Se"

Nem todas as coisas são tão inseguras quanto os céticos pressupõem, ou melhor, quase nada: fatos concretos, consumados e já existentes, organizam tudo o que possuímos, o resto é pura obra da nossa cabeça mefistofélica, metafísica, aturdida pelo monstro do acaso que é tão certo quanto a existência do tempo futuro que ainda viveremos.
A reflexão a posteriori inviabiliza a inserção do “se” no campo dialético, até porque, o “se” implica contingência e o passado já é determinado e imutável, portanto, esse mesmo “se”, quando nos referimos à acontecimentos de outrora, não passa de vício de linguagem. 
O “se” é um elemento discursivo que só pode ser aceito quando hipotetizamos possibilidades supervenientes. Essa relação é estritamente temporal. 
Só sucessos de outrora são didáticos ao ponto de mostrar no que a prática pode culminar, por isso, agarro-me sempre a história e, apesar de saber a fragilidade que ela carrega, nessa mesma, que às vezes pode ser mais suscetível a um peido do que a uma revolução, encontro meu último encosto existencial. 
A linguagem, a reflexão, a aflição, a angústia, o medo e mais toda espécie de emoção moral idiossincrática ao ser humano não concernem em nada no plano político das coisas, salvo quando essas mesmas disposições ganham seus contornos empíricos e são aplicadas de forma externa; depois, ao obtermos resultados, é da mais alta imoralidade os concebermos como mero efeito colateral que pode ser dissociado do âmbito do discurso teórico e, quando tentamos aprimorar as idéias excluindo esses pontos supostamente indesejáveis, todo ideário entra em processo de abulição, perdendo força e se dissolvendo por suas próprias falhas retóricas. 
Essa é uma das razões do entibiamento dos partidos de esquerda mundo afora: muitos deles, formados por pessoas ingênuas, diagnosticaram no exercício do marxismo comportamentos anti-éticos e extremamente fascistas, mas, como o socialismo sempre pregou um certo amor ao próximo através da extinção de classes, os Bolchevique, Mao Tse Tung, Fidel Castro e tantos outros, constantemente são vistos como um sonho não realizado por erros técnicos, ao passo de que, Hitler, Mussolini, Sadan Hussein e Bush são conhecidos como grandes opositores da moralidade. Ora! O que distingue uns dos outros, senão o discurso? Ou seja, a prática não importa?
Porque o “mas e se” só é usado no caso da quimera vermelha? Ninguém fala: “mas e se Hitler tivesse feito do jeito X ou do Z”, pelo menos não na América Latina. No leste europeu ninguém ousa questionar “e se” quando o papo é URSS. Lá, ninguém mais quer brincar de ser proletário oprimido. O sofrimento pode ser bom se o homem precisa se tornar adulto e não sabe como. 
A historiografia revela verossimilhanças indigeríveis. O mundo não está cheio de mentiras, está apenas repleto de verdades que a maioria das cabeças não conseguem assimilar. É claro que em tudo isso não há nenhum sentido, porém, se quisermos abusar do “se” como ferramenta para o futuro, é mais do que necessário analisar o desenvolvimento de doutrinas nos lugares onde elas efetivamente se estabeleceram como praxe política para não incorrermos a questionamentos do tipo: “porque deu errado?”. Tem gente que não percebe que o “errado” pode ser proposital e que o mesmo faz parte da estrutura do pensamento racional de quem o elaborou. Mesmo que não faça, porque continuar aceitando tais idéias como válidas? 
O poder de persuasão dos teóricos de esquerda é altíssimo: eles não são tão ingênuos quanto o secto que os seguem, isso pode corroborar o intuito pernicioso de tais pessoas. 
Eles dispõem do instinto dos perdedores ao seu favor. Qual é esse instinto? O manifesto, a reclamação e a insatisfação, até porque, o problema só pode ser o que me aflige e se a pobreza é o carma da maioria, a maioria, como bons democratas que somos, vai gritar contra o establishment
Está mais do que claro que o crescimento do Estado reduz o indivíduo e fortalece uma cúpula que ganha poderes cada vez mais ilimitados. Quando o jovenzinho que vai à Paulista mostrar o seu cartaz tiver essa noção, e vai ser da forma mais dura, talvez ele perceba que não há cadeiras no poder disponíveis a todos, só aí, perceberá que o Estado comunista é tão fajuto quanto a idéia de éden e vida após a morte e que a foice e o martelo são os espectros sagrados de uma religião barata de inteligentinhos de meia tigela. 
Mas “e se” lêssemos Dante Alighiere e Goethe aos quinze anos? Não foi assim, agora é preciso ter uma habilidade sem precedentes para explicar alguma coisa a pessoas que foram à escola aprender como colocar camisinha na banana. 
Essa foi minha educação, mas, apesar de toda a desgraça financeira e familiar, agora, só me aproprio do “se” nos conflitos vindouros. Isso pode não amenizar a tragédia existencial, mas, ao menos, não me torna mais um papagaio em nome do social.

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