segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ambiguidade, Modus Operandi e Discurso

A doutrina de esquerda e suas derivadas que propõe a ampliação do Estado, são um antídoto dos mais plausíveis no momento em que julgamos que seus pressupostos são legítimos: desde cedo, aprendemos que a luta de classes e a desigualdade social é o maior problema que demanda soluções políticas do ser humano. Deve ser esse o motivo do êxito operacional dessas ideologias em países pobres, afinal, se o homem tem impulsos ao idiotismo (id = eu e ota = visão, logo, idiota é aquele que só vê a si mesmo), o desconforto é a única condição patogênica que tomamos a sério na hora de definir quais são os impasses a serem resolvidos. Essa é a nossa educação, ela só esqueceu de legar que o materialismo ateu também faz parte dessa potencialização que eleva a humanidade por meios externos em detrimento da consciência moral. 
Como o ateísmo pode se correlacionar com problemas de ordem prática e objetiva? Não acreditar em Deus não seria uma abnegação e abstenção do sentido da vida? 
O marxismo não tem sustentação conceitual, ao menos que entendamos o fascismo de uma ou duas cabeças em nome do que elas pensam ser o “bem”, algo a ser seguido como ordem universal. A idolatria é elemento fundamental no processo de consolidação da esquerda, exemplos não faltam: de Lênin à Lula passando por camisas do Che e idéias distorcidas da quimera cubana. Com Jesus Cristo ocorreu o mesmo fenômeno. O sagrado me parece um pouco mais elegante e menos vergonhoso quando o ponto de partida das nossas reflexões é usado como ferramenta retórica para embasar um sistema de problemática persecutório. 
Apesar das abundantes críticas, tanto da direita quanto da esquerda radical, à “Teologia da Libertação”, vejo nessa, certa racionalidade do catolicismo. Uma concepção honesta é aquela que não nega fatos e impressões correntes, ao passo de quê, se há um Deus onipotente e onipresente que reduz todo o resto de matéria a pó, a Igreja deveria reconhecer que o funcionamento da economia dignifica algumas pessoas e entibia a dignidade moral de outras, logo, já não estamos numa massa homogênea e a ganância pode levar, como diria Luiz Felipe Ponde: “a condição adâmica de querer estar no lugar de Deus”. 
É apenas uma questão política, sei que a intimidade ética e não o discurso público, é a única forma de conversar com Deus. Mas por que a Igreja, outrora tão atuante nas estruturas do governo, sempre resistiu à adoção do marxismo como modus operandi? Esse mesmo modus operandi só é legítimo quando temos um problema, esse problema é válido quando institucionalizamô-lo como verdade, e a verdade nunca pode existir na falta de fé, afinal, se nada tem sentido, qual seria o sentido da especulação acerca de valores quando nossa dialética não agrega nenhum valor logo no seu princípio? 
A própria dissidência da filosofia faz a distinção necessária entre ateus e niilistas; o primeiro, hoje, seria uma espécie de militante da ciência, já o segundo, é um ímpio mais trágico e sem nenhum compromisso com axiomas; aquele, apenas substituiu a religião; esse, perdeu o chão e, segundo um niilista famoso: “cai no abismo”, às vezes “dançando”, mas, na maior parte dos casos, tomando remédios. 
Tão logo me tornei ateu, encontrei-me em puro estado de niilismo. Minhas inclinações pueris as idéias de esquerda não duraram mais que dois meses, por isso, sempre achei que essa tragédia fosse uma percepção inerente e idiossincrática ao indivíduo que não acredita no sacro. É difícil digerir o valor produzido em laboratório, portanto, é intragável um método de discurso que se contradiz com o único intuito de se auto-elevar. Essa dicotomia entre ateus e niilistas, a meu ver, não faz muito sentido: um ateu militante está apenas brincando de pensar, e, esse tipo de gente, eu simplesmente ignoro. 
Percebe, caro leitor, como o elemento discursivo não passa de tradução da prática objetiva? A linguagem é isso, mas o que seria dessa na religião profunda e no estado de niilismo? Nos dois não há muita dependência dos fatos materiais, o que há é uma verdadeira miséria de modus probandi, há pequenas impressões que ganham dimensões inauditas dentro do sujeito, há mais beleza e menos falácia em busca de encômios, além disso, ainda tem a possibilidade, inviável em sistemas mais rígidos, de entrar em contradição nas conjecturações cotidianas. 
É tudo uma questão de modus operandi, e, me é crível que esse não tem muita afinidade com o discurso produzido, nem no marxismo nem na religião. Até mesmo no niilismo: alguns céticos consideram a civilização um lugar confortável para esperar pela morte; apesar da sociedade suprimir uma série das nossas liberdades naturais, ela nos ourtoga segurança jurídica e moral, assim, negociamos o potencial ilimitado de ação que o estado de natureza pode proporcionar em troca de conforto e de um jugo social em nome da preservação física do ser humano. O niilista não sabe de onde advém sua ética, mas muitos sofrem com a desgraça material alheia, então, porque também não aceitam a axiologia esquerdista, ou parte dela, como válida? 
Não fico mais ensimesmado com a natureza ambígua da nossa razão, ela não passa do distúrbio de um ser fraco e volátil que compreendeu há pouco tempo que a trajetória biológica tem um fim.

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